No mesmo dia do impasse em relação à divulgação de um manifesto do setor empresarial, capitaneado pela Fiesp e que gerou um racha na Febraban – com o anúncio da saída de Caixa e Banco do Brasil da associação – entidades do setor agroindustrial divulgaram uma nota mais enfática em defesa da democracia.
O texto cobra de lideranças brasileiras que se mostrem “à altura do Brasil” e critica a “politização ou partidarização nociva”, que tem potencial para agravar os problemas enfrentados pelo país.
Assinam o texto entidades como Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Associação Brasileira dos Produtores de Óleo de Palma (Abrapalma), Associação Brasileira dos Industriais de Óleos Vegetais (Abiove), Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), CropLife Brasil, Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal (Sindiveg).
Em comum, estas entidades congregam principalmente empresas da agroindústria, com grande impacto exportador. Este tipo de empresa tende a sofrer mais com danos à imagem do país que os produtores rurais, que atuam no mercado interno ou vendem sua produção para a agroindústria exportadora.
Fontes do setor informam, contudo, que a maioria dos produtores não aprovaria um texto com o chancelado pelas associações ligadas à agroindústria, devido ao apoio ainda alto que o presidente Jair Bolsonaro tem no campo.
“É o Estado Democrático de Direito que nos assegura essa liberdade empreendedora, essencial numa economia capitalista, o que é o inverso de aventuras radicais, greves e paralisações ilegais, de qualquer politização ou partidarização nociva que, longe de resolver nossos problemas, certamente os agravará”, defendem as entidades no manifesto.
‘Eleições legítimas’
O grupo destaca as credenciais do setor, como a geração de milhares de empregos e forte participação na economia, para cobrar que “nossas lideranças se mostrem à altura do Brasil e de sua história”.
O texto ainda diz que as mais de três décadas de trajetória democrática do país, ainda que com percalços, são marcadas por conquistas e avanços sob a “alternância de poder em eleições legítimas e frequentes”.
As entidades seguem argumentando que para o desenvolvimendo socioeconômico do país ser efetivo e sustentável é pré-requistio haver tranquilidade na caminhada civilizatória para formação de uma sociedade fraterna, “que reconhece a maioria sem ignorar as minorias, que acolhe e fomenta a diversidade, que viceja no confronto respeitoso entre ideias que se antepõem, sem qualquer tipo de violência entre pessoas ou grupos”.
Leia a íntegra da nota do agronegócio
“As entidades associativas abaixo assinadas tornam pública sua preocupação com os atuais desafios à harmonia político-institucional e, como consequência, à estabilidade econômica e social em nosso país. Somos responsáveis pela geração de milhões de empregos, por forte participação na balança comercial e como base arrecadatória expressiva de tributos públicos. Assim, em nome de nossos setores, cumprimos o dever de nos juntar a muitas outras vozes responsáveis, em chamamento a que nossas lideranças se mostrem à altura do Brasil e de sua história agora prestes a celebrar o bicentenário da Independência.
A Constituição de 1988 definiu o Estado Democrático de Direito no âmbito do qual escolhemos viver e construir o Brasil com que sonhamos. Mais de três décadas de trajetória democrática, não sem percalços ou frustrações, porém também repleta de conquistas e avanços dos quais podemos nos orgulhar. Mais de três décadas de liberdade e pluralismo, com alternância de poder em eleições legítimas e frequentes.
O desenvolvimento econômico e social do Brasil, para ser efetivo e sustentável, requer paz e tranquilidade, condições indispensáveis para seguir avançando na caminhada civilizatória de uma nacionalidade fraterna e solidária, que reconhece a maioria sem ignorar as minorias, que acolhe e fomenta a diversidade, que viceja no confronto respeitoso entre ideias que se antepõem, sem qualquer tipo de violência entre pessoas ou grupos. Acima de tudo, uma sociedade que não mais tolere a miséria e a desigualdade que tanto nos envergonham.
As amplas cadeias produtivas e setores econômicos que representamos precisam de estabilidade, de segurança jurídica, de harmonia, enfim, para poder trabalhar. Em uma palavra, é de liberdade que precisamos — para empreender, gerar e compartilhar riqueza, para contratar e comercializar, no Brasil e no exterior. É o Estado Democrático de Direito que nos assegura essa liberdade empreendedora essencial numa economia capitalista, o que é o inverso de aventuras radicais, greves e paralisações ilegais, de qualquer politização ou partidarização nociva que, Ionge de resolver nossos problemas, certamente os agravará.
Somos uma das maiores economias do planeta, um dos países mais importantes do mundo, sob qualquer aspecto, e não nos podemos apresentar à comunidade das Nações como uma sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais. O Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que temos projetado ao mundo. Isto está nos custando caro e levará tempo para reverter.
A moderna agroindústria brasileira tem história de sucesso reconhecida mundo afora, como resultado da inovação e da sustentabilidade que nos tornaram potência agroambiental global. Somos força do progresso, do avanço, da estabilidade indispensável e não de crises evitáveis. Seguiremos contribuindo para a construção de um futuro de prosperidade e dinamismo para o Brasil, como temos feito ao longo dos últimos anos. O Brasil pode contar com nosso trabalho sério e comprovadamente frutífero.”
O Globo