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Pandemia aumenta uso de internet no campo, mas falta de conexão e alto custo são barreiras, aponta pesquisa

O uso das soluções digitais no campo deslanchou nos últimos meses por causa da pandemia do novo coronavírus. O uso da internet para buscar informações relacionadas às atividades de campo é a ferramenta preferida, seguida de aplicativos de celular ou programas de computador para divulgação da produção e gestão da propriedade.

Essa foi uma das constatações da pesquisa realizada pela Embrapa em parceria com o Sebrae e o Inpe. Nas respostas dos produtores, o valor do investimento, a falta de conexão à internet, o custo para contratar pessoas especializadas e a falta de conhecimento sobre as ferramentas aparecem, respectivamente, como as maiores barreiras à adoção das novas tecnologias.

De 17 de abril a 2 de junho deste ano, por meio de questionários on-line, foram ouvidas 753 pessoas em todo o país – das quais 504 agricultores e 249 empresas de agricultura digital. Globo Rural teve acesso aos resultados com exclusividade.

“Os números nos surpreenderam positivamente, com 84% dos produtores usando algum tipo de tecnologia digital associada à atividade agrícola. E a adesão constatada é em todo o sistema de produção: antes, dentro e depois da porteira”, afirma o coordenador do estudo, Edson Bolfe, pesquisador da Embrapa Informática.

Perguntados sobre as principais funções das tecnologias digitais, 40% dos produtores responderam que passaram a usar para compra e venda de insumos e da produção (veja gráfico abaixo). Antes da pandemia era comum esperar pelo representante comercial na fazenda, agora com o distanciamento social o negócio é feito on-line.

A venda direta ao consumidor também aumentou nos últimos meses, especialmente em frutas e hortaliças, com consumidores buscando mercadorias sem intermediários. “A agricultura digital já vinha crescendo, não aconteceu por causa da pandemia. Mas certamenta toda essa situação de distanciamento acelerou, e muito, esse processo”, reforça Bolfe.

Victor Ferreira, analista de competitividade do Núcleo de Agronegócio do Sebrae, afirma que, mesmo ainda havendo obstáculos para a adoção das tecnologias nas propriedades, o uso das ferramentas digitais vem crescendo no campo.

Ele lembra que boa parte dos pequenos agricultores, que têm produções de ciclos curtos, que precisam ser escoadas constantemente, teve de buscar formas alternativas de venda por meio de ambientes digitais para compensar a queda de demanda provocada pelo fechamento de bares, restaurantes e escolas. “O uso só não é maior devido à carência de informação e orientação técnica, especialmente entre os pequenos e médios produtores.”

A falta de conhecimento especializado é um dos destaques da pesquisa. O percentual de adesão às tecnologias é menor à medida que cresce a complexidade da ferramenta, como uso de dados e imagens gerados por sensores remotos (satélite, van ou drones).

Ieda Sanches, pesquisadora do Inpe, conta que recebe constantemente contatos em busca de profissionais que entendam de sensoriamento remoto e de agricultura. “Temos imagens de satélites de alta qualidade e plataformas de processamento, todas gratuitas, que podem ser usadas para análises agrícolas. Mas para isso é preciso o recurso humano”, diz ela.

Até 2021, projeções da consultoria PwC indicam que o negócio brasileiro de drones e geolocalização atingirá a marca histórica de US$ 12 bilhões, levando em conta apenas os equipamentos, sem considerar o desenvolvimento de softwares.

Das 150 mil aeronaves remotamente pilotadas e registradas na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) até julho deste ano, em torno de 50% são usadas pelo agronegócio – especialmente pelos setores florestal, sucroalcooleiro e grãos, em atividades de imageamento, pulverização e controle biológico.

Responsáveis pela popularização do uso de imagens em propriedades rurais nos últimos anos, os drones aparecem com destaque na pesquisa, principalmente no quesito de intenção de uso. “Embora o percentual efetivo de uso não tenha sido tão alto, a intenção de uso mostra que esse mercado continuará em ascensão”, considera Lúcio André de Castro Jorge, pesquisador da Embrapa Instrumentação.

Além de mapear o comportamento do produtor rural, a pesquisa procurou conhecer o perfil dos desenvolvedores de soluções e prestadores de serviços de todo o Brasil. Entre as principais ferramentas oferecidas por 249 empresas ouvidas, estão aplicativos de celular ou programas de computador para obtenção ou divulgação de informações relacionadas à produção.

No que depender do que se tem visto até agora, especialmente nos meses de pandemia, a expansão projetada não deve demorar para ser concretizada. É o caso da startup Aegro, desenvolvedora de um software de gestão financeira e agronômica. Com sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a empresa com 55 funcionários viu o faturamento dobrar no primeiro semestre na comparação com o mesmo período do ano passado.

“Em quase seis anos, desde a nossa fundação, nunca faturamos tanto como nesses seis meses. E boa parte das vendas foi online, já que os consultores não puderam visitar fazendas”, conta o CEO da Aegro, Pedro Dusso.

Ele acrescenta que este promete ser o primeiro ano em que a empresa fechará as contas no azul após receber aporte de R$ 7,5 milhões de aceleradoras e de fundos de venture capital.

Fonte: Globo Rural

Postado em 10 de agosto de 2020

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