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Produção de vinhos do Brasil teve em 2020 a “safra das safras”

Nas lavouras de uvas viníferas do Brasil, nunca se viu uma produção de tamanha qualidade como a de 2020, afirmam profissionais e estudiosos da vitivinicultura. Para eles, o Brasil registrou o que pode ser considerada a “safra das safras”, a melhor de todos os tempos.

A qualidade do vinho vem, primordialmente, das uvas produzidas, aliadas ao conhecimento dos profissionais e tecnologias de produção. Este ano, as condições climáticas foram especialmente favoráveis às videiras, principalmente durante a vindima no Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, os maiores produtores de vinhos do país.

“Normalmente, se fala da safra com um olhar quantitativo. No caso da produção de uvas para vinho, o olhar é um pouco diferente. Tem uma abordagem para a qualidade dos vinhos. Eventos às vezes adversos para a produção de grãos, como a estiagem no verão passado, foram muito bons para a produção de vinhos de alta gama”, explica o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Mauro Zanus.

O pesquisador explica que a qualidade da safra depende muito da genética das uvas, da geografia das áreas cultivadas – que hoje, no Brasil, são as mais diversas como a Serra Gaúcha, Vale do São Francisco, os vinhos de altitude de Santa Catarina – aliados à tecnologia de campo. Recentemente, ainda agregado um diferencial com a atualização setorial tecnológico relativo à fermentação e elaboração dentro das vinícolas.

Esses fatores vêm melhorando a cada safra, no entanto, este ano o clima – que é uma das variáveis mais imprevisíveis e importantes na qualidade das uvas – foi excepcional.

“Toda a região Sul foi afetada por um viés de clima mais seco, associado a uma série de fatores até meio surpreendente, porque não havia uma previsão de La Niña na primavera passada”, ressalta Zanus. “Os dias eram ensolarados e as noites de temperatura mais amena. Isso foi ótimo para desenvolver uma maturação completa das uvas, 100% sadias, de forma que as vinícolas puderam desenvolver, com a tecnologia, uvas de alto potencial para a produção de vinhos de alta qualidade”, acrescenta.

Ainda durante a safra, os enólogos já percebiam que teriam à disposição, neste ano, uvas com potencial para grandes vinhos. “Conforme a safra foi acontecendo, tivemos vários relatos da qualidade das uvas em termos de açúcares e de sabor, de maturação, de perfume, sanidade, dos enólogos. Começamos a perceber que, além da qualidade por trás da safra, todas as variedades tiveram um resultado surpreendente”, explica o presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), Daniel Salvador.

De acordo com ele, a amplitude térmica é bastante favorável para a produção de uvas e, consequentemente refletido na qualidade dos vinhos, porque interfere na cor, para as uvas tintas, e na formação de alguns aromas. Além disso, o deficit hídrico, especialmente no período de colheita, beneficiou a sanidade das uvas e fez com que a planta acumulasse mais nutrientes do que água em seus cachos, produzindo uvas de melhor qualidade.

“Também notamos que não havia nenhuma intempérie em paralelo com a safra, seja alguma ação fúngica ou de algum micro-organismo que pudesse interferir na videira, que é muito sensível. Então, nenhum fator externo que pudesse prejudicar ou intervir no processo de maturação fenológica e de açúcares é muito importante”, explicou o enólogo.

Flávio Zilio, enólogo da Vinícola Aurora, reforça que as condições climáticas refletiram na qualidade e na sanidade das plantas, permitiram que as vinícolas recebessem uvas que proporcionaram a elaboração de vinhos com muitas qualidades. “Quando uma maturação fenólica é plena, os taninos se tornam com boa quantidade e com muita qualidade, aveludados e agradáveis, sem arestas. E isso ocorreu na safra 2020. O clima nos ajudou, com chuvas moderadas baixas, isso fez com que as doenças fossem menores, podendo dar tempo ao produtor para que essas videiras pudessem completar o ciclo de maturação das uvas”, afirma.

O resultado dessa colheita foi visto na Avaliação Nacional dos Vinhos de 2020, que ocorreu em novembro, de forma virtual pela primeira vez, que avalivou 395 amostras de 56 vinícolas de todo país. As 16 amostras selecionadas como as melhores (30%) foram classificadas a partir de uma planilha de notas numa escala de zero a 100, sendo 86 pontos considerados um vinho muito bom. A linha de corte atingiu 92 pontos, a mais alta das 28 edições da avaliação.

“Ali mostra o nível de qualidade que essa safra proporcionou, sendo a maior nota de corte da história. Impressionante, porque 92 pontos é uma pontuação muito alta e todos os vinhos, dentre os 30% melhores, tiveram uma nota assim”, ressalta Zilio.

O enólogo afirma que todas as castas se comportaram de forma muito importante no quesito melhoria de qualidade, com destaque para as tintas Tannat, Merlot, Cabernet sauvignon e Cabernet franc. “Penso que, se tivesse eleger as variedades que mais evoluíram com esse ano, seriam essas quatro, que realmente mostraram uma maturação fenólica importantíssima”, avalia.

Brancos e espumantes
Os vinhos brancos e de bases para espumantes também tiveram um desempenho acima do esperado. De acordo com Mauro Zanus, pesquisador da Embrapa, como o clima foi muito seco e ensolarado, pensava-se que essa condição pudesse reduzir a acidez das uvas e, assim, prejudicar a qualidade da produção do Brasil. Mas não ocorreu. A amplitude térmica diária durante a maturação das uvas potencializou a acidez, característica essencial.

“A acidez dos vinhos estava excelente e fomos investigar os motivos. Olhando os gráficos, especialmente da temperatura durante a maturação nas diferentes regiões, mostram que a temperatura noturna estava ou na média normal ou abaixo dela, o que é ótimo. Porque assim você tem uma amplitude térmica. Isso se traduz a condição excepcional para formar a acidez. Acidez é a coluna dorsal de um vinho, ainda mais nos espumantes”, disse Zanus.

Fonte: Globo Rural

Postado em 22 de novembro de 2020

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